ARQUEOLOGIA, TEOLOGIA,
HISTÓRIA
MANUSCRITOS DO MAR MORTO
Manuscritos
do Mar Morto
A doutrina
que João pregou no deserto já era conhecida dois séculos antes. Alguns judeus
particularmente piedosos (os Hassidim) admitiam estar próximo o fim do mundo,
por acreditarem no que dizia o livro dos Macabeus (I. Mac. 1,2).
Os judeus
tiveram sempre pouca sorte com os estrangeiros. Depois do exílio da Babilónia
vieram os Persas. Alexandre venceu-os em 333 a. C. e repartiu o Império. Duzentos anos
antes da era cristã os Sírios conquistaram o poder na Judeia.
Os Hassidim
protestaram contra a impiedade do seu tempo. Perseguidos, abandonaram as
aldeias e refugiaram-se no deserto, entre Jerusalém e o Mar Morto, num local
chamado Qumram. São os antepassados dos Essénios. Alguns desses Essénios
separaram-se do movimento, cheios de cepticismo. Deram origem à seita dos
Fariseus.
O estudo
comparado dos manuscritos do Mar Morto, como ficaram conhecidas as produções
literárias dos Essénios, e do Novo Testamento, estabelece a existência, não de
simples coincidência, mas de uma evidente dependência directa deste, no que
toca às palavras, às ideias e às próprias doutrinas.
Estes
manuscritos, descobertos entre 1947 e 1956 foram, na sua maioria, escritos
antes da era cristã e guardados em rolos, dentro de vasilhas de barro. Só
alguns foram redigidos depois da morte de Jesus. São a relíquia religiosa mais
importante depois de se ter provado que o "Santo Sudário",
supostamente a mortalha do corpo de Jesus, tinha sido tecido 1300 anos depois
da sua morte.
A maior parte
dos manuscritos do Mar Morto foram escritos com tinta sobre pele de carneiro.
Geza Vermes, um estudioso bíblico da Universidade inglesa de Oxford, considera
ser "Um escândalo académico que aproximadamente 300 rolos, dos cerca de
1000 que foram descobertos, ainda não tenham sido revelados".
Muitos destes
manuscritos estão guardados em diversas universidades, em Israel, Estados
Unidos, França e Inglaterra.
A língua
usada nos manuscritos é o aramaico, uma língua morta. No trabalho de tradução
recorre-se ao computador, que dispensa o manuseio (e a consequente
deterioração) das peças originais. As dificuldades são muitas. Para se formar
um rolo é preciso juntar-se grande número de fragmentos, porque as
"folhas" originais estão ressequidas e partidas.
A
crescente ansiedade dos estudiosos bíblico relaciona-se com a desejada prova da
ligação de Jesus à Ordem dos Essénios, particularmente depois dos 13 anos, a
identificação histórica de Jesus e a confirmação da dependência do Novo
Testamento desses manuscritos. A sua divulgação tem sido dificultada por razões
não exclusivamente técnicas.
O ano
originalmente combinado para a divulgação do conteúdo dos manuscritos era 1970.
Depois, os israelitas prometeram a sua publicação para 1997. As justificações
para esta demora são essencialmente três:
Conteúdo
espectacular para a fé judaico-cristã, abalando eventualmente as estruturas
hierárquicas religiosas. O escritor americano Edmund Wilson fundamentava esta
hipótese referindo a conhecida tentativa de minimizar a importância dos
manuscritos.
Interesse das
várias universidades (israelitas, francesas, americanas e inglesas) em
monopolizar o estudo destes documentos.
Dificuldades
financeiras.
Bibliografia
Allegro, John
- O Mito Cristão e os Manuscritos do Mar Morto, Lxª; Daniélou, Jean - Los
Manuscritos del Mar Muerto y Las Orígenes del Cristianismo, Buenos Aires, 1959;
Scholfield, Hugh - A Odisseia dos Essénios, S. Paulo 1991; Revista Veja, 6 de
Setembro de 1989. Mapa:
Revista Veja,
6 de Setembro de 1989.
Estudos
recentes comprovam que Sodoma e Gomorra está onde hoje é o Mar morto
Miqsat Ma`ase ha-Torah
4Q396(MMT[superscript]c)
Parchment
Copied late first century B.C.E.-early first century C.E.
Fragment A: height 8 cm (3 1/8 in.), length 12.9 cm (5 in.)
Fragment B: height 4.3 cm (1 11/16 in.), length 7 cm (2 3/4 in.)
Fragment C: height 9.1 cm (3 9/16 in.), length 17.4 cm (6 7/8 in.)
Courtesy of the Israel Antiquities Authority (8)
4Q396(MMT[superscript]c)
Parchment
Copied late first century B.C.E.-early first century C.E.
Fragment A: height 8 cm (3 1/8 in.), length 12.9 cm (5 in.)
Fragment B: height 4.3 cm (1 11/16 in.), length 7 cm (2 3/4 in.)
Fragment C: height 9.1 cm (3 9/16 in.), length 17.4 cm (6 7/8 in.)
Courtesy of the Israel Antiquities Authority (8)

"Então o
Senhor, da sua parte, fez chover do céu enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra.
E Abraão levantou-se de madrugada, e foi ao lugar onde estivera em pé diante do
Senhor; e, contemplando Sodoma e Gomorra e toda a terra da planície, viu que
subia da terra fumaça como a de uma fornalha. (Gn 19.24, 27-28 )."
Abraão e Ló separam-se.Após sua volta do Egito, Abraão e Ló separaram-se. "E a terra não tinha capacidade para poderem habitar juntos", conta a Bíblia, "porque seus bens eram muito grandes. Daqui nasceu uma contenda entre os pastores dos rebanhos de Abraão e os de Ló.
Abraão e Ló separam-se.Após sua volta do Egito, Abraão e Ló separaram-se. "E a terra não tinha capacidade para poderem habitar juntos", conta a Bíblia, "porque seus bens eram muito grandes. Daqui nasceu uma contenda entre os pastores dos rebanhos de Abraão e os de Ló.
Disse, pois,
Abraão a Ló: Peço-te que não haja contendas entre mim e ti, nem entre os meus
pastores e os teus pastores, porque somos irmãos. Eis diante de ti todo o país;
rogo-te que te apartes de mim; se fores para a esquerda, eu tomarei a direita;
se escolheres a direita, eu irei para a esquerda" (Gn 13.6-9). Abraão
deixou que Ló escolhesse. Despreocupado, como geralmente são os jovens, Ló
optou pela melhor parte, a região do Jordão. Ela era "... toda regada de
água" e abençoada por uma exuberante vegetação tropical, "como o
paraíso do Senhor e como o Egito até Segor" (Gn 13.10). Ló vai para Sodoma
Das cadeias
de montanhas cobertas de bosques, no coração da Palestina, Ló desceu para
leste, entrou com sua gente e seus rebanhos no vale do Jordão ao sul e,
finalmente, levantou suas tendas em Sodoma. Ao sul do mar Morto havia uma planície
fertilíssima, o "Vale de Sidim, onde agora é o mar salgado" (Gn
14.3). A Bíblia enumera cinco cidades nesse vale: Sodoma, Gomorra, Adama, Seboim
e Segor (Gn 14.2).
Ela tem
notícia também de uma guerra na história dessas cinco cidades: "Naquele
tempo sucedeu" que quatro reis "fizeram guerra contra Bara, rei de
Sodoma, e contra Bersa, rei de Gomorra, e contra Senaar, rei de Adama, e contra
Semeber, rei de Seboim, e contra o rei de Bala, isto é, Segor" (Gn 14.2).
Doze
anos haviam os reis do vale de Sidim sido tributários do Rei Codorlaomor. No
décimo terceiro, rebelaram-se. Codorlaomor pediu auxílio a três reis que
estavam a ele coligados. Uma expedição punitiva chamaria os rebeldes a razão.
Na luta entre os nove reis, Codorlaomor e seus aliados derrotaram os reis das
cinco cidades do vale de Sidim, incendiando e saqueando suas capitais.
Lot
encontrava-se entre os prisioneiros dos reis estrangeiros. Foi libertado por
seu tio Abraão (Gn 14.12-16), que, com seus servos, seguiu qual uma sombra o
exército dos reis que voltavam para suas terras. De um esconderijo seguro,
observava e estudava tudo atentamente, sem ser notado. Abraão deu tempo ao
tempo. Só perto de Dan, na fronteira norte da palestina, pareceu-lhe que havia
chegado a oportunidade favorável. De repente, sob a proteção de uma noite
escura, Abraão atacou com seus servos a retaguarda do exército e, na confusão
que se seguiu, pôde libertar Ló. Só quem não conhece a tática dos beduínos pode
ouvir com ceticismo essa narrativa.
Entre os
habitantes dessa região existe até hoje memória dessa expedição. Ela aparece no
nome de um caminho que segue, partindo do lado leste do mar Morto, para o
norte, até a velha terra de Moab. Os nômades da Jordânia conhecem-no muito bem.
Entre os naturais chama-se curiosamente "estrada dos reis". Na
Bíblia, nós o encontramos novamente, aqui porém chamado "estrada
pública" ou "caminho ordinário", quando os filhos de Israel
queriam passar por Edom a caminho da "Terra Prometida" (Nm 20.17-19).
No alvorecer da nossa era, os romanos utilizaram e reconstruíram a
"estrada dos reis". Partes dela pertencem hoje a rede de estradas do
novo Estado da Jordânia. Perfeitamente visível de avião, o velho caminho
atravessa a região, assinalado por uma faixa escura.
A destruição
de Sodoma e Gomorra
Disse, pois,
o Senhor: O clamor de Sodoma e Gomorra aumentou, e o seu pecado agravou-se
extraordinariamente. Fez, pois, o Senhor da parte do Senhor chover sobre Sodoma
e Gomorra enxofre e fogo do céu; e destruiu essas cidades, e todo o país em
roda, todos os habitantes da cidade, e toda a verdura da terra. E a mulher de
Ló, tendo olhado para trás, ficou convertida numa estátua de sal. E viu que se
elevavam da terra cinzas inflamadas, como o fumo de uma fornalha (Gn 18.20;
19.24, 26, 28).
A sinistra
força dessa narrativa bíblica tem impressionado profundamente os ânimos dos
homens em todos os tempos. Sodoma e Gomorra tornaram-se símbolos de vício e
iniquidade e sinônimos de aniquilação completa. Incessantemente, o terrível e
inexplicável acontecimento deve ter inflamado a fantasia dos homens, como o
demonstram numerosos relatos dos tempos passados. Devem ter ocorrido coisas
estranhas e absolutamente inacreditáveis no mar Morto, o mar salgado, onde, de
acordo com a Bíblia, ocorreu a catástrofe.
Segundo uma
tradição, durante o cerco de Jerusalém, no ano 70 da nossa era, um general
romano, Tito, condenou alguns escravos a morte.
Submeteu-os a
um breve julgamento e mandou encadeá-los todos juntos e jogá-los no mar,
próximo ao monte de Moab. Os condenados, porém, não se afogaram. Repetidamente
foram jogados ao mar e todas as vezes, como cortiças, vinham dar em terra. O inexplicável
fenômeno impressionou Tito de tal modo que ele acabou por perdoar os pobres
criminosos.
Flávio
Josefo, historiador judeu que viveu os últimos anos da sua vida em Roma, cita
repetidamente um "lago de asfalto". Os gregos falavam com insistência
em gases venenosos que se desprenderiam por toda parte nesse mar, e os árabes
diziam que havia muito nenhuma ave conseguia voar até a outra margem. Segundo
eles, ao sobrevoá-lo, as aves se precipitavam subitamente na água, mortas.
Exploração do
Mar Morto
Essas e
outras histórias tradicionais similares eram bem conhecidas, mas até uns cem
anos atrás faltava todo e qualquer conhecimento preciso sobre o estranho e
misterioso mar da Palestina. Nenhum cientista o tinha visto e explorado ainda.
Foram os Estados Unidos que, no ano de 1848, tomaram a iniciativa, equipando
uma expedição para estudar o enigmático mar Morto. Num dia de outono desse ano,
a praia em frente a cidadezinha de Akka, quinze quilômetros ao norte de Haifa,
ficou negra de homens ativamente ocupados numa estranha manobra.
De um navio
ancorado ao largo, W. F. Lynch, geólogo e chefe da expedição, havia mandado
desembarcar dois barcos metálicos, que nesse momento estavam sendo
cuidadosamente amarrados em carros de altas rodas. Puxados por uma longa
fileira de cavalos, puseram-se a caminho. Ao fim de três semanas e após
dificuldades incríveis, foi terminado o transporte através das terras do sul da
Galiléia.
Os
barcos foram lançados a água no lago Tiberíades. As medidas de altura tomadas
por Lynch no lago de Genesaré produziram a primeira grande surpresa dessa
viagem. A princípio, ele pensou tratar-se de um erro, mas a verificação
confirmou o resultado. A superfície do lago de Genesaré, mundialmente conhecido
pela história de Jesus, ficava duzentos e oito metros abaixo da superfície do
Mediterrâneo! A que altura nasceria o Jordão, que atravessa esse lago?
Dias depois,
W. F. Lynch encontrava-se numa alta encosta do nevado Hermon. E entre os restos
de colunas e portais desmantelados surgiu a pequena aldeia de Banias. Árabes
conhecedores do terreno conduziram-no através de um espesso bosque de
espirradeiras até uma cova meio encoberta por calhaus na íngreme encosta
calcária do Hermon. Da escuridão dessa cova brotava com força, gorgolejando, um
jorro de água límpida. Era uma das três nascentes do Jordão.
Os árabes
chamam ao Jordão Cheri ’at el Kebire, "Grande Rio". Ali estivera o
antigo Paníon, ali Herodes construíra um templo de Pã em honra de Augusto.
Junto a gruta do Jordão, havia uns nichos em forma de concha. Ainda se pode ler
ali claramente a inscrição grega: "Sacerdote de Pã". No tempo de
Jesus Cristo, o deus grego dos pastores era venerado junto as fontes do Jordão.
O deus com pés de cabra levava aos lábios a flauta, como se quisesse modular
uma canção para acompanhar o Jordão em sua longa viagem. A cinco quilômetros
daquela fonte, para os lados do oeste, ficava a bíblica Dan, o sítio mais
setentrional do país, repetidamente citada na Bíblia. Também ali, na encosta
sul do Hermon, brotava uma nascente de águas claras. Uma terceira fonte desce
de um vale situado mais acima. O fundo do vale fica pouco acima de Dan,
quinhentos metros acima do nível do mar.
Onde o Jordão
atinge o pequeno lago Huleh, vinte quilômetros ao sul, o leito já baixou até
dois metros acima do nível do mar. Depois o rio se precipita abruptamente por
um espaço de pouco mais de dez quilômetros até o lago de Genesaré. Em seu
curso, das vertentes do Hermon até esse local, num trecho de quarenta
quilômetros apenas, desceu setecentos metros.
Do lago
Tiberíades, os membros da expedição americana desceram o Jordão em dois barcos
de metal, percorrendo seus intermináveis meandros.
Gradualmente
a vegetação ia-se tornando mais esparsa. Só nas margens do rio ainda havia
moitas espessas. Sob o sol tropical, surgiu a direita um oásis - Jericó. Pouco
depois chegaram ao seu destino. Entre penhascos talhados quase a prumo,
estendia-se a sua frente a vasta superfície do mar Morto.
A primeira
coisa que fizeram foi tomar um banho. Os homens que saltaram na água tiveram a
impressão de que vestiam salva-vidas, tal a maneira como foram impelidos para
cima. As antigas narrativas não haviam, pois, mentido. Naquele mar, ninguém
podia se afogar. O sol escaldante secou a pele dos homens quase
instantaneamente. A fina camada de sal que a água deixara em seus corpos
fazia-os parecerem completamente brancos. Ali não havia moluscos, peixes,
algas, corais... naquele mar jamais vogara um barco de pesca.
Não havia
frutos do mar nem frutos da terra. Suas margens eram desoladas e nuas. As
costas do mar e as faces dos rochedos lá no alto, cobertas de enormes camadas
de sal endurecido, brilhavam ao sol como diamantes. A atmosfera estava saturada
de cheiros acres e penetrantes. Cheirava a petróleo e enxofre. Sobre as ondas
flutuavam manchas oleosas de asfalto - a que a Bíblia chama betume (Gn 14.10).
Nem mesmo o azul brilhante do céu ou o sol forte conseguia dar vida a paisagem
hostil.
Os barcos
americanos cruzaram o mar Morto durante vinte e dois dias. Tomavam amostras de
água, analisavam-nas, e a sonda era lançada ao fundo continuamente. Verificaram
que a foz do Jordão, no Mar Morto, ficava trezentos e noventa e três metros
abaixo do nível do mar! Se houvesse uma comunicação com o Mediterrâneo, o
Jordão e o lago de Genesaré, distante cento e cinco quilômetros,
desapareceriam. Um imenso mar interior se estenderia até as margens do lago
Huleh!
"Quando
uma tempestade irrompe naquela bacia de penhascos", observa Lynch;
"as ondas golpeiam os costados do barco como marteladas, mas o próprio
peso da água faz com que em pouco tempo se aplaquem, depois que o vento
cessa."
Através do
relatório da expedição, o mundo ficou sabendo pela primeira vez de dois fatos
espantosos. O mar Morto atinge quatrocentos metros de profundidade; o fundo do
mar fica, portanto, cerca de oitocentos metros abaixo da superfície do
Mediterraneo.
A água
do mar Morto contém cerca de trinta por cento de elementos componentes sólidos,
a maior parte constituída por cloreto de sódio, isto é, de sal de cozinha. Os
oceanos contém apenas de quatro a seis por cento de sal. Nessa bacia de setenta
e seis quilômetros de comprimento por dezessete de largura desembocam o Jordão
e muitos rios menores. Sob o sol escaldante, evaporam-se, dia após dia, oito
milhões de metros cúbicos de água de sua superfície. As matérias químicas que
esses rios conduzem permanecem nessa bacia de mil duzentos e noventa e dois
quilômetros quadrados de superfície.
A Procura de
Sodoma e Gomorra
Só no começo
deste século, com as escavações realizadas no resto da Palestina, foi despertado
também o interesse por Sodoma e Gomorra. Os exploradores dedicaram-se a procura
das cidades desaparecidas que nos tempos bíblicos estariam situados no vale de
Sidim.
Na
extremidade a sudeste do mar Morto, encontram-se os restos de uma grande povoação.
Esse sítio ainda hoje é chamado Segor. Os pesquisadores se regozijaram, pois
Segor era uma das cinco cidades ricas do vale de Sidim que se recusaram a pagar
tributo aos quatro reis estrangeiros. Mas as escavações experimentais
realizadas trouxeram apenas decepção. Assim, há dúvidas ainda se Segor é o
mesmo sítio citado na Bíblia.
A verificação
das ruínas descobertas revelou tratar-se de restos de uma cidade que floresceu
no princípio da Idade Média. Da antiga Segor do rei de Bala (Gn 14.2) e das capitais
vizinhas não se encontrou vestígio.
Entretanto,
diversos indícios encontrados nos arredores da Segor medieval sugerem a
existência de uma povoação muito densa naquele país em época muito anterior.
Na costa
oriental do mar Morto, estende-se mar adentro, como uma língua de tena, a
península de El-Lisan. Em árabe, "el-Lisan" significa "a
língua".
A Bíblia
menciona-a expressamente quando se refere a partilha do país depois da
conquista. As fronteiras da tribo de Judá são traçadas com precisão. Para isso
Josué dá uma estranha característica a fim de indicar os limites do sul:
"O seu princípio é desde a ponta do mar salgado, e desde a língua que ele
forma, olhando para o meio-dia" (Js 15.2).
Uma narrativa
romana refere-se a essa língua de terra numa história que sempre foi
injustamente considerada com grande ceticismo. Dois desertores fugiram para
essa península. Os legionários que os perseguiram procuraram-nos em vão por
toda parte. Quando finalmente os avistaram, era tarde demais. Os desertores já
escalavam os altos rochedos da outra margem... Tinham atravessado o mar a vau!
Evidentemente
o mar naquela época era mais raso que hoje. Invisível, o fundo ali forma uma
dobra gigantesca que divide o mar em duas partes. A direita da península, desce
a prumo até quase quatrocentos metros de profundidade. À esquerda da península,
o fundo é extraordinariamente raso. Medições feitas nos últimos anos acusaram
profundidades de quinze a vinte metros apenas.
O que
disseram os geólogos
Os geólogos
tiraram dessas descobertas e observações outra interpretação, que poderia
explicar a causa e fundamento da narrativa bíblica da aniquilação de Sodoma e
Gomorra.
A expedição
americana dirigida por Lynch foi a primeira que, em 1848, deu a notícia da
grande descida do Jordão em seu breve curso pela Palestina. O fato de, em sua
queda, o leito do rio descer muito abaixo do nível do mar é, como só pesquisas
posteriores comprovaram, um fenômeno geológico singular. "É possível que
haja em algum outro planeta coisa semelhante ao que ocorre no vale do Jordão;
no nosso não existe", escreve o geólogo George Adam Smith em sua obra
"A geografia histórica da Terra Santa".
"Nenhuma
outra parte não submersa da nossa Terra fica mais de cem metros abaixo do nível
do mar."
O vale do
Jordão é apenas parte de uma fenda imensa na crosta da nossa Terra. Hoje já se
conhece sua extensão exata. Começa muitas centenas de quilômetros ao norte da
fronteira da Palestina nas faldas da montanha do Tauro, na Ásia Menor. Ao sul,
vai desde a costa sul do mar Morto, atravessa o deserto de Arábia até o golfo
de Ácaba e só vai terminar do outro lado do mar Vermelho, na África. Em muitos
lugares dessa imensa depressão há vestígios de antiga atividade vulcânica. Nos
montes da Galiléia, nos planaltos da Jordânia oriental, nas margens do afluente
Jabbok, no golfo de Ácaba, há basalto negro e lava.
Será que
Sodoma e Gomorra afundaram quando (acompanhado por terremotos e erupções
vulcânicas) um pedaço do chão do vale ruiu um pouco mais? E o mar Morto se
alongou naquela época em direção ao sul?
A ruptura da
terra liberou as forças vulcânicas contidas há muito tempo nas profundezas da
greta. Na parte superior do vale do Jordão, junto a Basan, erguem-se ainda hoje
as crateras de vulcões extintos, e sobre o terreno calcário há grandes campos
de lava e enormes camadas de basalto.
Desde tempos
imemoriais, os territórios ao redor dessa depressão são sujeitos a terremotos.
Repetidamente temos notícia deles, e a própria Bíblia fala a respeito. Como
para confirmar a teoria geológica do desaparecimento de Sodoma e Gomorra,
escreve textualmente o sacerdote fenício Sanchuniathon em sua História antiga
redescoberta: "O vale de Sidim" afundou e se transformou em mar,
sempre fumegante e sem peixe, exemplo de vingança e morte para os ímpios".
A destruição
não foi causada por vulcões
Antes de mais
nada, convém frisar que está fora de qualquer cogitação a hipótese segundo a
qual a depressão do rio Jordão teria se originado somente há uns quatro
milênios, pois, conforme as pesquisas mais recentes, a origem dessa depressão
remontaria ao Oligoceno (Terciário, entre o Eoceno e o Mioceno).
Portanto,
neste caso é preciso calcular não em milhares, mas sim milhões de anos. Embora,
em tempos posteriores, fosse comprovada uma atividade vulcânica mais intensa,
relacionada com a abertura da depressão do rio Jordão, mesmo assim chegamos a
parar no Plistoceno, encerrado há uns dez mil anos, e ficamos longe do chamado
"período dos patriarcas", convencionalmente datado no terceiro ou até
segundo milênio antes de Cristo. Ademais, justamente ao sul da península de
Lisan, onde supostamente teria acontecido o ocaso de Sodoma e Gomorra,
perdem-se todos os vestígios de erupções vulcânicas. Em outras palavras,
naquela área as condições geológicas não permitem comprovar uma catástrofe
ocorrida em época geológica bem recente, que destruiu cidades e foi acompanhada
por violentas erupções vulcânicas.

A mulher de
Ló virou estátua de sal
E a mulher de
Ló, "tendo olhado para trás, ficou convertida em estátua de sal" (Gn
19.26).
Quanto mais
nos aproximamos da extremidade sul do mar Morto, mais deserta e selvagem se
torna a região e mais sinistro e impressionante é o cenário das montanhas. Um
eterno silêncio paira nos montes, cujas vertentes escalavradas pendem a prumo
sobre o mar, onde se reflete sua brancura cristalina. A inaudita catástrofe
deixou seu selo indelével de tristeza e desolação naquelas paragens. Raramente
passa por algum daqueles vales fundos e escarpados um grupo de nômades a
caminho do interior.
Onde terminam
as águas pesadas e oleosas, ao sul, termina também, bruscamente, o
impressionante cenário de rochedos, dando lugar a uma região pantanosa de água
salgada. O solo avermelhado é riscado por inúmeros ribeiros, perigosos para o
viajante incauto. Essa baixada estende-se a grande distância para o sul até o
deserto vale de Araba, que chega até o mar Vermelho.
A oeste da
costa sul, na direção do país do meio-dia bíblico, o Neguev, estende-se um
espinhaço de quarenta e cinco metros de altura e quinze quilômetros de
comprimento na direção norte-sul. O sol, batendo nas suas encostas, produz
reflexos de diamante. É um estranho fenômeno da natureza. A maior parte dessa
pequena serra é constituída de puros cristais de sal. Os árabes chamam-Ihe
Djebel Usdum, nome antiquíssimo em que está contida a palavra
"Sodoma". A chuva desloca numerosos blocos de sal que rolam até a
base. Esses blocos tem formas caprichosas e alguns deles são eretos como
estátuas. As vezes em seus contornos a gente pensa distinguir, de repente,
formas humanas.
As estranhas
estátuas de sal trazem logo a lembrança a história da Bíblia sobre a mulher de
Ló, que foi transformada em estátua de sal. E tudo o que está próximo ao mar
salgado ainda hoje se cobre em pouco tempo com uma crosta de sal.
Outros
achados arqueológicos
Foi apenas
recentemente que a escavação do Tell el-Mardikh, na Síria setentrional (ao sul
de Alepo), conduzida pelo cientista italiano Giovanni Pettinato, causou
sensação. Ali, Pettinato achou Ebla, uma cidade do terceiro milênio antes da
era cristã, e a esse respeito foram três os fatos que causaram espécie.
Primeiro, em
tempos pré-históricos, existia ali uma civilização avançada, com uma estrutura
social altamente diferenciada para a época; segundo, Ebla possuía um rico
arquivo de tabuinhas de barro. Como costuma acontecer com todos esses arquivos,
sua descoberta promete uma série de conhecimentos novos, quando, por outro
lado, tais noções recém-adquiridas bem poderiam abalar algumas das doutrinas
até então consideradas certas e garantidas. Recentemente, um colega alemão do
Prof. Pettinato comentou:
"Depois
de estudados e explorados os textos, provavelmente poderemos esquecer os
resultados obtidos em todo um século de pesquisas do antigo Oriente".
Contudo, a terceira e, no caso, a mais importante sensação causada pela
descoberta do Prof. Pettinato prende-se ao fato de os textos de Ebla conterem
nomes que nos são familiares pela leitura da Bíblia e, assim, aparecem no
terceiro milênio antes de Cristo!
Ali são
mencionados tanto o nome de Abraão quanto os nomes das cidades pecadoras de
Sodoma e Gomorra, aniquiladas pelo fogo, de Adma e Zeboim, no mar Morto. Aliás,
quanto a isso, há um certo ceticismo entre alguns colegas do prof. Pettinato.
Será que ele interpretou corretamente aqueles textos? Sem dúvida, pois como já
mencionamos em outro trecho, os nomes dos patriarcas foram encontrados também
em outros locais. Mas o que se deve pensar do fato de os nomes Sodoma e Gomorra
constarem de um arquivo encontrado na Síria, terceiro milênio antes de Cristo?
Assim será
que essas cidades existiram de fato?
Ou será que
sua tradição remonta a tempos remotos, a ponto de antecederem o início
convencionado para o "tempo dos patriarcas"?
Decerto,
ainda levará muito tempo para se encontrar respostas a todas essas perguntas.
Em geral, o cientista não costuma ir à cata de sensações, e falta muito para
reunirmos as condições necessárias para avaliar, sem sombra de dúvida, quanto
de realmente sensacional há na arqueologia bíblica do Tell el-Mardikh
descontado todo sensacionalismo
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