terça-feira, 24 de janeiro de 2012

NOME E DIVISÕES DO PENTATEUCO


NOME E DIVISÕES DO PENTATEUCO
 
Pentateuco é o nome pelo qual, tradicionalmente, se conhece o grupo dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento. Trata-se de uma palavra de origem grega que pode ser traduzida por “cinco estojos”, fazendo referência aos estojos (caixas ou vasilhas) onde, na antiguidade, se guardavam e protegiam da deterioração os rolos de papiro ou de pergaminhos utilizados como materiais de escrita. Os judeus designam, por sua vez, esses livros com o título genérico de torah, termo hebraico que, apesar de ter sido traduzido de forma habitual por “lei”, na realidade, tem um significado mais amplo. Torah, de fato, inclui o conceito de “lei” e, até com mesma propriedade, os de “guiar”, “dirigir”m “instruir” ou “ensinar” (Dt 31.9).
Pentateuco, ainda que se apresente dividido nos referidos cinco primeiros livros da Bíblia, constitui, na realidade, uma unidade essencial. A divisão corresponde a uma época já remota: encontra-se na tradução grega do Antigo Testamento, a chamada Septuaginta ou Versão dos Setentas, que data do século III a.C. (ver o Estudo Antigo Testamento). A causa da separação dos livros foi a dificuldade de dispor o texto completo de todos eles em um único rolo, o que seria impraticável por causa do volume excessivo.
Os nomes de origem grega adotados pela igreja cristã grego-latina como títulos desses cincos livros são os mesmos com que foram designados na Septuaginta. Correspondem respectivamente ao conteúdo de cada um dos textos e consideram cada caso ao destacar um determinado fato ou assunto; assim, Gênesis significa “origem”; Êxodo, “saída”; Levíticos, “relato aos levitas”; Números, “conta” ou “censo”; deuteronômio, “Segunda Lei”. Quanto à tradução hebraica, limita-se, em geral, à norma de intitular os livros com algumas das suas palavras iniciais: ao primeiro chama de Bereshit (no princípio); ao segundo, Shemoth (nomes); ao terceiro, Wayqrá (e ele chamou); ao quarto, Bemidbar (no deserto) e, ao quinto, Debarim (palavras).
 
O PENTATEUCO E A HISTÓRIA
 
Característica essencial do Pentateuco (ou Torah) é a alternância de seções narrativas com outras dedicadas a instruir o povo de Israel e a regulamentar a sua conduta, tanto na ordem ética pessoal e social como, muito especialmente, na religiosa.
Em uma primeira parte, que abarca o Gênesis e até o capítulo 19 de Êxodo, predomina o genro narrativo. Nessa seção, os relatos se enlaçam uns aos outros, somente interrompidos aqui e ali por algumas passagens de caráter normativo (Gn 9.6; 17.9-14; Ex 12.1-20) De Ex 20 em diante prevalecem os textos destinados a estabelecer as normas e disposições nas quais Deus revela o que quer e espera do seu povo. Dessa maneira, desde o impressionante pano de fundo de uma epopéia que vai da criação do mundo à morte de Moisés 9Dt 34.12), o Pentateuco mostra-se como o depósito da vontade de Deus manifestada na forma de ensinamentos, mandamentos e leis, cujo objetivo primordial é configurar um povo santo, que seja portador fiel perante o resto da humanidade da oferta divina de salvação universal.
 
FORMAÇÃO DO PENTATEUCO
 
Uma obra complexa, extensa e de grande valor religioso e cultural como o Pentateuco manifesta um série de particularidades estilísticas, literárias e temáticas que se deve levar em consideração ao se estudar o processo da sua formação.
Em primeiro lugar, há certos textos bíblicos que revelam a existência de fontes anteriores ao próprio Pentateuco, como por exemplo, o chamado Livro das Guerras do Senhor, expressamente citado em Nm 21.14.
Em segundo lugar, achamo-nos diante de uma obra literária rica em conteúdo e complexa em composição, que freqüentemente deixa perceber o eco de diversas etapas e distintos narradores. Assim ocorre com as variantes registradas nos dois textos do Decálogo (Ex 20.1-17; Dt 5.1-21); ou com as quatro apresentações do catálogo de grandes festas religiosas israelitas (Ex 23; 34; Lv 23; Dt 16); ou com certas histórias, como a da despedida de Agar e Ismael (Gn 16; 21.8-21) ou com o ocultamento da condição de esposa nos casos de Sara e Rebeca (Gn 121.10-20; 20.1-18; 26.6-14). Cada uma dessas narrações oferecem detalhes próprios, que a singularizam e a fazem aparecer como relato original e não como mera repetição de um texto paralelo.
Também com respeito ao vocabulário e estilo observam-se no Pentateuco, números matizes diferentes. Assim, em Gênesis, que começa com uma dupla apresentação do relato da criação (1.1 – 3.24): enquanto que na primeira o Criador é chamado Elohim (forma hebraica usual para designar Deus), na Segunda é chamado de YHWH Elohim, expressão traduzida por “Senhor Deus” na versão de João Ferreira de Almeida. A partir desses relatos e até o momento em que Deus SAE revela a Moisés no monte Horebe (Ex 3.1-15), a alternâncias dos nomes mantém-se com relativa uniformidade.
Algumas passagens do Pentateuco caracterizam-se pelo seu frescor e espontaneidade (Gn 18.1-15); outras, como acontecer em Levíticos, recorrem a uma linguagem jurídica de grande precisão, para tratar de temas legais ou relativos à pratica Dio culto de Israel; e ainda há outras (como Deuteronômio) que introduzem cálidos acentos, mesmo ao proclamar a Lei e ao exortar o povo a obedecer-lhe em devida resposta ao amor de Deus.
A análise dos indícios mencionados revela que o Pentateuco é o resultado de um processo lento e muito complexo, em cuja origem descobre-se a figura de Moisés, o grande libertador e legislador que, com a sua personalidade marcou o espírito e a história do povo de Israel; um processo que se encerra com a coleção formada pelos cinco primeiros livros da Bíblia.
Na formação do Pentateuco há um importante trabalho inspirado, que compila, ordena e redige narrações, séries genealógicas e conjuntos de leis que, durante séculos, haviam sido transmitidas oralmente de uma geração para outra. Nele, está contida a herança espiritual que Moisés legou ao povo de Israel, uma herança viva, fielmente transmitida e enriquecida com o passar dos séculos.
Os principais temas e as seções correspondentes do Pentateuco podem ser analisados segundo o esquema seguinte:
1.      Desde a criação do mundo até a genealogia de Abraão (Gn 1 – 11);
2.      A história dos Patriarcas (Gn 12 – 50);
3.      A saída do Egito (Ex 1 – 15);
4.      Desde o Egito até o Sinai (Ex 16 – 18);
5.      A revelação do Senhor no Sinai (Ex 19 – Nm 10);
6.      Desde o Sinai até Moabe (Nm 10 – 36); e
7.      O livro de Deuteronômio (Dt 1 – 34).

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